O Que é a Teoria Científica?


O Que é a Teoria Científica?

Em 09 de Julho de 2013, por Mark R. Crovelli

Imagine por um momento que você é onisciente. Incorporado desse conhecimento, você poderia compreender completamente como o mundo “funciona”. Você compreenderia completamente como funciona a luz, como os átomos e moléculas funcionam, como funciona a genética, como funcionam as placas tectônicas e como o universo veio a existir. Não haveria nada nos mundos natural e social que você não entenderia por completo.

Fosse você incorporado de tamanha onisciência, você não daria nenhuma utilidade para a “ciência”. Você não teria nenhuma necessidade de estudar o mundo de uma forma paciente e sistemática, pois você já possuiria todo o conhecimento sobre o mundo que a ciência poderia apenas ter a esperança de demonstrar. A ciência poderia apenas chateá-lo a ponto de lágrimas; ela pareceria ser um meio imperfeito e profundamente entediante de chegar  ao conhecimento que você já possui.

Infelizmente, entretanto, nenhum ser humano possui onisciência. Nascemos no mundo sem o conhecimento de como a luz funciona, como os átomos e moléculas funcionam, como funcionam as placas tectônicas e como o universo veio a existir. Também nos falta o conhecimento perfeito sobre o funcionamento do capitalismo e do socialismo, da democracia e da monarquia e como funciona o controle de preços.

Nossa incerteza com relação ao funcionamento dos mundos natural e social restringe nossa habilidade em agir. Nossa incerteza sobre o funcionamento das placas tectônicas nos restringe a prever e controlar terremotos. Nossa falta de conhecimento sobre o funcionamento da luz nos restringe a aproveitar inteiramente o seu poder para nossos propósitos. E nossa incerteza com relação ao funcionamento da democracia e da monarquia restringe nossa capacidade de construir sistemas políticos e econômicos que sejam bem adequados à nossa natureza. Essa lista poderia se estender ad infinitum.

Não somos despojados de mecanismos para entendermos como o mundo funciona. Não somos, como os animais brutos, amaldiçoados a lutar por nossa existência em um mundo que nunca entenderemos ou seremos capazes de aprender a retirarmos o nosso sustento. Possuímos a razão e a memória a nossa disposição que, com a ajuda de nossos sentidos, nos permitem examinar o mundo e aprender como seus elementos funcionam. Essas fantásticas habilidades mentais nos fornecem meios para investigar o mundo na esperança de extirpar pelo menos um pouquinho nossa ignorância natural e nossas incertezas.

Nossas fantásticas habilidades mentais, entretanto, não nos fornecem informações infalíveis sobre o funcionamento do mundo. Podemos entender errado o que está acontecendo e raciocinar superficialmente. Nossos sentidos podem nos enganar e nosso pensamento pode se tornar nebuloso, distorcido, tendencioso ou míope. Além de tudo isso, o mundo em que vivemos é tão grande e complexo e nosso tempo tão escasso, que cada um de nós é limitado a uma pequena porção de conhecimento que poderemos armazenar.

Portanto, apenas trabalhando e aprendendo com outras pessoas podemos nós, como indivíduos, aprender mais que a mínima fração sobre o funcionamento do mundo. Dessa forma, podemos tirar vantagens por meio da divisão do trabalho intelectual que nos permite investigar aspectos bastante específicos do mundo e então dividir os frutos de nossas investigações com o restante da humanidade. Essa especialização e o intercambio de idéias nos permitem a economia de nosso escasso tempo, permitem que  aprendamos mais sobre o mundo que, caso contrário, poderíamos aprender como indivíduos isolados. E isso ainda serve como checagem do raciocínio falível de cada indivíduo.

O conceito de “ciência” no mundo ocidental foi cunhado de modo a conectar a comunidade de indivíduos que estão empenhados em estudar o mundo de um modo especializado, sistêmico e verificável intersubjetivamente. Idealmente, essa comunidade científica acumula conhecimento sobre o funcionamento do mundo tão logo indivíduos aprendam das investigações especializadas de seus colegas e construam sobre elas, bem como pelas críticas da comunidade científica e do refinamento das teorias com o passar do tempo.

O processo pelo qual a comunidade científica investiga o mundo não é mágico ou um caminho automático para a iluminação ou à onisciência. As teorias que são moldadas na comunidade científica em um momento específico podem ou não descrever o verdadeiro funcionamento do mundo. Comunidades de indivíduos especialistas, assim como os próprios especialistas, podem ser vítimas de erros intelectuais. Eles podem interpretar erroneamente os acontecimentos e podem analisá-los com demasiada superficialidade. Seus sentidos e observações podem enganá-los e suas conclusões podem ser nebulosas, míopes e tendenciosas.

O problema crítico e inexorável que a comunidade de especialistas encara, no entanto, é saber se as teorias padrão que utilizam descrevem com acurácia e precisão o funcionamento do mundo. Essa incerteza sobre a precisão de suas teorias científicas surge, mais de uma vez, do fato de que nenhum membro da comunidade é onisciente. Nenhum membro da comunidade científica está na posição de dizer com total certeza se alguma das teorias descreve com precisão, ou não, o funcionamento do mundo.

Se pelo menos um dos membros dessas comunidades especialistas fosse onisciente, seria possível apelar para  o seu conhecimento como um assessor objetivo sobre teorias científicas. Nesse caso, entretanto, o assessor onisciente não teria nenhum problema em descrever ele mesmo o funcionamento do mundo utilizando a palavra desajeitada “teoria”. Ele apenas diria que “o mundo funciona assim…”, ou que “o mundo não funciona assim…”. Se tal pessoa existisse, além do mais, a prática da ciência cessaria imediatamente, pois qualquer conhecimento específico do mundo seria obtido dessa pessoa onisciente, sem a necessidade de estudos entendiantes e imprecisos realizados “cientificamente”.

Pelo fato de as comunidades científicas não contarem com essa pessoa onisciente entre seus membros, foi desenvolvida uma “metodologia científica” para tentar lidar com as incertezas relacionadas com as suas teorias. A “metodologia científica”, que consiste em desenvolver hipóteses e testá-las contra experiências empíricas, não produz nenhum conhecimento para a comunidade científica, todavia. Ela meramente serve como obstáculo, com algum grau de dificuldade, contra a produção de informações imperfeitas que a maioria dos cientistas consideraria implausível, inverificável e como teorias bobas.

A capacidade de esclarecer esse pequeno obstáculo, entretanto, de forma alguma pode ser interpretada como verificação de uma teoria, ou prova de sua verdade, porque várias outras teorias alternativas poderiam sempre ser imaginadas e também poderiam ser consistentes com os “fatos” empíricos [1]. O método científico não supre a comunidade científica com um meio de determinar qual teoria, se alguma, fora dos conjuntos sem limites de teorias alternativas que poderiam ser sonhadas para explicar o mesmo fenômeno empírico está “correta”. E esse método científico também não supre a comunidade científica de nenhum meio de saber com certeza se seus membros não estão entendendo erroneamente a evidência empírica. Apenas um ser onisciente poderia saber essas coisas com certeza.

Pelo fato de a evidência empírica não falar “por si mesma” e pelo fato de os cientistas não serem oniscientes (e assim não saberem se eles estão corretamente interpretando evidências empíricas), os cientistas não podem nunca saber com certeza se suas teorias descrevem corretamente a realidade empírica. Isso significa que nenhuma teoria que se apóie sobre a interpretação de evidência empírica poderá ser mais que apenas uma afirmação subjetiva de credo sobre como uma parte do mundo funciona, baseando-se em alguma evidência empírica [2].

Essa definição é inevitável, pois nenhum cientista está em uma posição onisciente para saber com certeza se interpretou a evidência empírica corretamente, ou mesmo se a sua teoria é a “correta” dentro de um conjunto infinito de alternativas que poderiam ser imaginadas para explicar um dado fenômeno.

Isso não é dizer que as teorias científicas que se apóiam na interpretação de evidências empíricas sejam inúteis ou sem significado, simplesmente porque elas são afirmações subjetivas de credo pessoal. Nem isso implica em afirmar que todas as teorias científicas empiricamente derivadas sejam igualmente plausíveis ou de que todas devam ser caracterizadas igualmente de outro modo, simplesmente porque todas elas são afirmações subjetivas de crença sobre como o mundo funciona. Do contrário, uma teoria que resta sobre evidência empírica não passa de uma “opinião de algum expert” sobre como o mundo funciona, mas nem por isso ela é inútil – e algumas vezes ela é incrivelmente útil, na verdade – mesmo que se saiba que ela é incorreta em alguns aspectos (e.g. a física newtoniana) [3]. Além do mais, indivíduos são livres para evoluírem a plausibilidade das teorias científicas sobre si mesmos, o que significa que eles são livres para concordarem que algumas teorias empíricas são mais plausíveis que outras.

O fato de as teorias científicas serem afirmações de crença significa, entretanto, que o cientista que afirma ser a sua teoria derivada empiricamente um “fato” ou uma “certeza inegável” não entende as limitações de seu método. Ele está se iludindo – e a todos os que acreditam em suas crenças – se ele acha que é capaz de provar que sua teoria empiricamente derivada é uma “verdade irrefutável”. Apenas um ser onisciente poderia saber com certeza se uma evidência empírica está sendo interpretada corretamente e saber por certo que uma teoria específica tirada de um conjunto infinito de teorias alternativas que poderiam ser imaginadas para explicar um dado fenômeno é a “correta”. Contudo, de novo, um ser onisciente não se incomodaria com métodos científicos chatos e ineficientes, ele meramente diria que “o mundo funciona assim…”, ou que “o mundo não funciona assim…”. Ele certamente não se incomodaria em testar suas idéias contra a experiência empírica, pois ele já saberia o resultado. Portanto, o fato de o cientista se aborrecer em ter que testar suas teorias e hipóteses revela a falta de onisciência e isso também revela, a fortiori, sua incapacidade em saber com certeza se ele está interpretando uma evidência empírica “corretamente”.

De modo a se mover além das afirmações subjetivas de credo pessoal sobre como o mundo funciona, o cientista teria que se tornar onisciente ou contar com a consultoria de alguém onisciente, ou ele precisaria ir além de coletar e interpretar evidências empíricas. Pelo fato de as primeiras opções serem, presumidamente, fechadas a ele, a única opção viável ao cientista é descobrir “fatos” sobre o mundo, ou de partes do mundo, que não podem ser pensadas como falsas e que não estão abertas a interpretações ruins. Em outras palavras, o cientista teria que se transformar de empiricista em um racionalista, aquele que está preocupado em descobrir as verdades fundamentais sobre o mundo (i.e. verdades sobre o mundo a priori) e elucidá-las por meio de métodos dedutivos e racionalistas [4]. Apenas então o cientista estaria na posição de dizer que ele encontrou “fatos” sobre partes do mundo que são “verdades incontestáveis”.

Ao endossar o “método científico” como o único meio de adquirir conhecimento sobre o mundo, o cientista de pensamento empiricista tacitamente admite que é possível descobrir verdades fundamentais sobre o mundo sem ir a campo e testá-las. A proposição “todas as hipóteses e teorias devem ser testadas contra a experiência empírica” pretende ser uma verdade universal e objetiva, mesmo que ela mesma nunca tenha sido e nem possa ser “testada”. Portanto, a proposição é auto contraditória e, conseqüentemente, falsa, um fato que estabelece a possibilidade de descobrir verdades irrefutáveis e demonstráveis sobre o mundo sem sair a campo e testá-las.

Assim, certezas absolutas nas ciências não podem ser adquiridas utilizando o “método científico” (o positivista-empiricista) e a coleção e interpretação de evidência empírica. Para os seres que não possuem onisciência, a coleção e interpretação de evidências empíricas podem apenas sugerir crenças imperfeitas e subjetivas sobre como o mundo funciona. Em oposição, a certeza absoluta nas ciências só pode ser descoberta com proposições sobre o mundo que possam ser conhecidas a priori – proposições que são impossíveis de serem falsas. Essa observação, em uma casca de noz, forma a fundamentação e a grande força da Escola Austríaca de Economia, que permanece virtualmente sozinha no mundo contemporâneo como bastião para pensadores que estão insatisfeitos com as aproximações imperfeitas e subjetivas da ciência convencional [5].

Notas:

[1] Alexander L. George e Andrew Bennett: Case Studies and Theory Development in the Social Sciences (Cambridge, Mass.: MIT Press, 2004). p. 30.

[2] Em certos aspectos, essa definição subjetiva para teorias científicas empiristas parece a idéia do paradigma científico desenvolvido por pensadores como Thomas Khun e Paul Fayerabend. Pelo que conheço, entretanto, relativistas como Khun e Fayerabend nunca foram tão longe de modo a chamar uma teoria científica empirista de “subjetiva”. E nem afirmaram eles que fosse possível descobrir verdades sobre o mundo que não são relativas. Como poderá ser visto no texto, chamar as teorias científicas empiristas de “subjetivas” de forma alguma implica que é impossível adquirir conhecimento sobre o mundo que é uma verdade objetiva e irrefutável. Apenas significa que teorias que se baseiam na interpretação de evidência empírica não podem ser entendidas como sendo uma verdade objetiva e irrefutável.

[3] sobre a utilidade duradoura da física Newtoniana, a despeito de suas claras deficiências, veja Thomas Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (Chicago: University of Chicago Press, 1962).

[4] para uma brilhante elucidação do método racionalista, veja Hans-Hermann Hoppe: A Ciência Econômica e o Método Austríaco; tradução de Fernando F. Chiocca; Instituto Ludwig von Mises, São Paulo, 2010.

[5] sobre as fundamentações a priori da Escola Austríaca, veja Ludwig von Mises, Epistemological Problems of Economics 3rd ed. (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 2003), Ibid., Human Action, (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1999), Murray Rothbard, “In Defense of Extreme Apriorism,” Southern Economic Journal, January 1957, 23(1), pp. 314-320., Ibid., Man, Economy, and State (Auburn, Ala.: Mises Institute, 2004), and Hans-Hermann Hoppe, op cit.

Publicado originalmente no Mises Daily em 06/01/2012

Jane Jacobs: uma forasteira libertária


Jane Jacobs: uma forasteira libertária

Em 02 de Julho de 2013, por Jeff Riggenbach

Quando Jane Jacobs morreu em 25 de abril de 2006, houve um breve pico de interesse em algumas publicações libertárias – uma breve homenagem foi feita à ela no mises.org – mas esse pico logo se arrefeceu. E, desde então, fora um pequeno e perceptivo artigo sobre ela no lewrockwell.com e uma resenha extremamente inteligente na recente biografia de Jacobs no Journal of Libertarian Studies em 2007, não vi mais nenhuma referência na mídia em geral sobre uma das intelectuais mais importantes de língua inglesa do século XX que, sabendo ela disso ou não, também fora uma libertária.

Não que os autores daqueles pequenos artigos sobre Jacobs tenham tanto respeito por sua obra – eles realmente tinham. Pierre Desrochers, o geógrafo canadense que escreveu “Morte e Vida de um Relutante Ícone Urbano” para o Journal of Libertarian Studies, chamou Jacobs de “a escritora mais influente sobre as cidades na última metade do século” e Thomas Schmidt, que escreveu  “Ludwig von Mises, Meet Your Leibniz para o Lewrockwell.com no final de abril de 2010, chamou Jacobs de “uma pensadora e teórica urbanista original” cuja obra de 7 livros possui poucas ou nenhuma referência austríaca em sua bibliografia e mesmo assim suas conclusões freqüentemente parecem meramente um modo diferente de afirmar as mesmas descrições de Mises.

Schmidt nota, no começo de seu artigo, que:

Se uma teoria cientifica fornece uma descrição verdadeira da realidade, ela se manifestará de algumas formas. De um jeito, aproximações diferentes para a verdade irão todas converter na mesma realidade descrita, para outra, uma teoria congruente com a realidade irá revelar sua verdade em mais áreas que a área de observações empíricas que a originalidade permitiu. Assim, o desenvolvimento do cálculo de Newton coincidiu com o de Leibniz, ambos trabalhando com o mesmo método analítico matemático existente na época … se a economia austríaca também reflete uma realidade descritiva, ela deve da mesma forma se aproximar por diferentes métodos e ser verdadeira fora da pura economia, como Mises pretendia que a praxeologia fosse aplicável por toda a ciência social.

Na visão de Schmidt, Jane Jacobs se manteve para Mises como Leibniz estava para Newton. Ambos, independentemente, descobriram a mesma verdade por meio de diferentes pontos de vista e empregaram, de alguma forma, diferentes metodologias.

Pierre Desrochers vê Jacobs de um modo muito semelhante. A primeira vez que ele leu uma obra sua foi por volta de 1990 quando era estudante na Universidade de Montreal e ele declarou, 17 anos mais tarde no Journal of Libertarian Studies, que “sua escrita sobre os mercados como sistemas complexos adaptativos tinham tornado-no de um escritor de centro esquerda um devoto da ordem espontânea muito antes de sequer ter ouvido falar do libertarianismo e da economia austríaca.”

“Ordem espontânea”, é claro, é um conceito muito mais proximamente associado com Friedrich Hayek que com Ludwig von Mises e não há escassez de comentaristas que tenham comparado Jane Jacobs com Hayek. O professor de administração David Emanuel Andersson disse, por exemplo, que o primeiro e mais famoso livro de Jacobs, Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas, e o ensaio mais famoso de Hayek sobre o Uso do Conhecimento na Sociedade contam essencialmente a mesma história. Poderia-se até mesmo dizer que o paper de Hayek de 1945 é um sumário mais generalizado e abstrato dos argumentos centrais do livro de Jacobs de 1961.

Consideremos outro exemplo: Gene Callahan e Sanford Ikeda, em um valioso artigo sobre Jacobs publicado há oito anos, escreveram que “seu trabalho está cheio de argumentos e insights sobre a natureza econômica das comunidades, sobre o planejamento central e sobre ética que libertários achariam muito originais e esclarecedores”. Eles citaram sua observação do Morte e Vida que diz que as cidades são “problemas de complexidade organizada”, que requerem que aqueles que as estudam sejam capazes de “lidar simultaneamente com um número bastante grande de fatores que estão inter-relacionados em um todo o orgânico”. Eles também notam seu argumento contra o que chamam de “planejamento local de mão pesada”, principalmente porque esse tipo de planejamento falha em não levar em consideração os subconjuntos de conhecimento possuídos apenas pelos indivíduos em ação (para os quais ela cunhou a expressão conhecimento da localidade) e que isso inapropriadamente imita [as técnicas] da ciência física do século XIX.

Callahan e Ikeda parabenizam Jacobs no que eles chamam de “domínio inato do poder da troca voluntária e da ordem espontânea” e seu “individualismo metodológico e subjetivismo” na abordagem das questões em que trabalha. E eles comentam que “os paralelos” entre as idéias que ela formula em seu primeiro livro e os conceitos hayekianos de ordem espontânea, conhecimento local e cientificismo são admiráveis, especialmente porque ela não tinha familiaridade com o trabalho de Hayek naquele tempo.

Na época em que Morte e Vida foi publicado, Jacobs tinha 45 anos. Ela nasceu Jane Isabel Butzner em 4 de maio de 1916 em Scranton, Pennsylvania, filha de um próspero médico e sua esposa, enfermeira. A jovem Jane cresceu em Scranton, graduou-se lá e conseguiu emprego em um jornal local, o Scranton Tribune como escritora e editora para as páginas femininas. Um ano depois, aos 19, mudou-se para Nova York em busca da própria sorte.

Era 1935, abismo da Grande Depressão. Antes de se mudar, fizera um curso de datilografia e caligrafia, assim poderia se candidatar para um emprego de escritório caso não encontrasse no jornalismo e ela realmente trabalhou como estenógrafa durante seus primeiros anos em Nova York, mas não foi tão demorado até que ela começasse a vender artigos para jornais e revistas – primeiro para as revistas Cue e Vogue, então para matérias principais nos domingos do New York Herald Tribune durante a gestão de Isabel Paterson no jornal.

Em 1937, aos 21 anos, utilizando o dinheiro que seus pais reservaram para o propósito, ela se matriculou na universidade. Como conta sua biógrafa, Sparberg Alexiou, Jane Butzner se matriculou na School of General Studies da Universidade de Columbia como uma estudante visitante, o que significava que ela poderia estudar o que quisesse. Pela primeira vez em sua vida, Jane encontrou-se surpresa por gostar dos estudos formais e ela até mesmo tirou boas notas.

Em Scranton, na escola, ela se aborrecia com o currículo e levava livros sobre assuntos que a interessavam, prestando nenhuma atenção ao que era dito nas aulas, o que tinha como resultado notas medíocres. Agora ela estudava qualquer coisa que gostasse – geologia, zoologia, economia, geografia, direito constitucional – e ela era uma boa estudante. Porém, de acordo com Alexiou, após dois anos nos Estudos Gerais, Jane necessitou se matricular, o que significou que precisava ingressar na Barnard College. Contudo, Barnard rejeitou sua aplicação, apesar de seu ótimo currículo acumulado em Columbia. A faculdade feminina baseou suas decisões nas terríveis notas do ensino médio.

Jane decidiu não se importar. Como ele disse em uma entrevista anos mais tarde, “uma vez que fosse de propriedade da Barnard eu tinha que fazer, parece-me, o que Barnard quisesse que eu fizesse, não o que eu gostaria de aprender. Felizmente, minhas notas do colégio foram tão ruins que a Barnard decidiu que eu não poderia pertencer a ela e eu estava, portanto, permitia a continuar minha educação” pelos meios de leituras independentes. Ela também decidiu procurar trabalho. Talvez alguns anos de sucesso em freelances com seus artigos e alguns anos de estudos em Columbia a ajudassem a um emprego na edição?

E isso aconteceu. Ela recebeu uma oferta de trabalho na Iron Age, uma revista de negócios sobre a indústria do ferro e do aço. De lá ela se mudou para um bico como escritora de artigos para o Escritório de Informações da Guerra, que, durante seus três anos de existência, foi a maior editora de revistas do mundo. De lá, ao final da guerra, ela mudou-se para a Amerika, uma produção extremamente cara publicada pelo Departamento de Estado durante os primeiros anos da Guerra Fria, começando em 1944. Amerika era publicada para distribuição na União Soviética para informar seus cidadãos sobre a vida nos Estados Unidos. Foi escrita em inglês por escritores americanos como Jane Butzner, então traduzido para o russo, colocada nas máquinas e impressa. Quando ela cessou suas publicações em 1952, Jane, então com 36 anos, mudou-se para uma associação de editores e equipe de escritores no Architectural Forum, um produto da Henry Luce’s Time.

E foi por meio dessa publicação – Architectural Forum – o último emprego que ela teve no jornalismo que ela finalmente encontrou tanto a fama quanto sua sorte no final da década de 1940. Quando ela entrou na revista, de acordo com Alice Sparberg Alexiou, a ela foram passados os assuntos sobre escolas e hospitais, sobre o que ela nada conhecia. ‘Você será nossa especialista em escolas e hospitais’, disse-lhe o editor. Anos mais tarde ela disse: ‘então sempre ache suspeitas as revistas! Eu não sabia bulhufas sobre isso … e alguém com uma impressora diz que você é especialista’.”

Nesse tempo, entretanto, Jane Butzner casou-se com um arquiteto chamado Robert Jacobs em 1944. Ele ensinou à esposa como ler projetos e serviu como seu tutor e consultor nessa nova empreitada para aprender o suficiente sobre projetos de escolas e hospitais e poder, competentemente, cobrir o assunto para a Architectural Forum. Além disso, é claro, ele mudou o foco de sua esposa no jornalismo ao final da década. Ele transformou Jane Butzner em Jane Jacobs, o nome pelo qual se tornou famosa. Naquele tempo, ela ainda não era famosa e estava encarando um problema no trabalho.

Agora que ela tinha finalmente se profissionalizado no assunto, ela foi designada para um desafio novo e mais instigante: o planejamento urbano. Como sempre antes daquilo, ela se debruçou de corpo e alma no assunto de forma autodidata. Quais eram os objetivos do planejamento urbano? Ela se perguntava. Como eles querem alcançar seus objetivos? Qual o sucesso de suas tentativas no passado? Se falharam, qual foi a causa?

Para alcançar essas questões, ela começou a andar e passear de bicicleta por Manhattam. Ela observou. Perguntou-se como uma cidade funciona, o que a tornava ordeira, o que a tornava um lugar onde as pessoas podiam viver felizes, beneficiando-se das vizinhanças em que viviam.

As conclusões que chegou, como indicado, eram similarmente às de Ludwig von Mises e Friedrich Hayek chegaram por rotas diferentes. Uma cidade é, basicamente, um mercado. Ela é uma ordem espontânea. Ela não pode ser planejada. As pessoas que tentam planejar cidades falham acima de tudo porque elas não compreendem os meios pelos quais a ordem espontânea funciona.

Jacobs escreveu sobre o que ela observou e sobre o que ela inferia de suas observações no Architectural Forum. Um livro foi encomendado a ela pela Random House e ela encaminhou o manuscrito no início de 1961. O livro foi publicado no final daquele mesmo ano – há mais de meio século – como Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas e pode ser dito com muita segurança que ele levou o mundo a questionar-se. As idéias que ele contém, que varreram as faces de tudo o que se sabia entre os planejadores e os estudantes de planejamento à época, são hoje tidas como verdades concretas que devem ser levadas em conta por qualquer estudante sério de urbanismo e de planejamento. Morte e Vida é um daqueles livros que realmente mudam seu leitor – incapaz mesmo de pensar sobre o assunto de uma forma diferente daquela que ele leu em suas páginas.

Esse primeiro livro foi um grande desafio de ser copiado em grandeza mas Jacobs o fez, com outros dois livros de comparável originalidade e importância nas próximas duas décadas: The Economy of Cities em 1969 e Cities & the Wealth of Nations em 1984.

Ao tempo do primeiro deles, o A Economia das Cidades foi publicado em 1969, Jacobs e seu marido pegaram seus três filhos, incluindo dois em idade militar, e deixaram nova York para Toronto onde se tornaram cidadãos canadenses. Eles se opunham à Guerra do Vietnam, contaram a repórteres, e queriam ter certeza de que seus filhos não pudessem ir para a guerra forçados a lutar. Jane Jacobs levou 38 anos vivendo no Canadá, um pouco mais da metade de sua vida adulta. Lá ela faleceu, em Toronto, em 25 de abril de 2006 e hoje é descrita, com tamanha justiça, como uma “escritora e ativista canadense de naturalidade americana”.

Parece que ela teve acesso a alguma informação libertária oficial em 1970, quando Murray Rothbard revisou seu segundo livro, A Economia das Cidades, em seu  Libertarian Forum, chamando-o de “trabalho brilhante e cintilante que celebra o desenvolvimento econômico, do passado e do presente, das cidades de livre mercado”. Porém, foi em 1980, quando o Laissez Faire Books começou a publicar o Morte e Vida e fez uma resenha laudatória (escrita por mim) do livro de 1984 de Jacobs, Cities & the Wealth of Nations, no catálogo mensal, que Jacobs e suas idéias realmente começaram a penetrar a mente libertária de modo importante. Em 1985, quando Cities & the Wealth of Nations ganhou o prêmio Mencken da libertária Free Press Association como o melhor livro de apoio aos direitos individuais publicados no ano precedente, a associação pública das idéias de Jane Jacobs com o libertarianismo começaram a ganhar destaque.

Dois anos mais tarde, em 1987, o anarcocomunista Murray Bookchin, que em algumas ocasiões participou de mesmas causas que libertários, enobreceu Cities & the Wealth of Nations dizendo que ele “permanece como uma das melhores contribuições de Jane Jacobs para demonstrar de uma forma bastante articulada que nosso bem-estar econômico depende das cidades, não em estados nacionais” e que “seu argumento convida a um debate sobre a superfluidade do estado que há tempos é negligenciada”. Nessa época, embora o reconhecimento, Jacobs afastou-se alguns passos da tradição libertária. Um entrevistador disse-lhe em 1985: “cada vez mais … tenho visto pessoas a identificarem você com o libertarianismo. Você aceitaria essa caracterização?”

E ela respondeu:

Sou totalmente a favor da ajuda aos pobres e a dar às pessoas uma boa educação que possa ser usada – não o que elas possam pagar. Acredito que a saúde, não ligada ao dinheiro, é terrivelmente importante … os libertários dizem “olha, nem deveríamos ter leis sobre drogas. Isso é responsabilidade das pessoas sobre elas mesmas. Não deveríamos ter centenas de leis sobre coisas que não prejudicam as pessoas”. Não tenho tanta certeza sobre isso. Acho que as pessoas precisam de ajudas de vários tipos. Deve ser empírico, pragmático, você deve ver o que acontece. Deve tentar reconhecer erros, não apenas continuar fazendo-os porque você não sabe o que mais fazer. Não tenho uma noção sentimental de que todo ser humano seria maravilhoso se não fossem espoliados – isso não é verdade. Mas por não querer ajudar aos pobres ou dizer “deixe todos se erguerem com as próprias pernas”, não, eu não acredito nisso.

Então, por sua própria conta, Jane Jacobs não era uma libertária. Por sua própria conta, Ludwig von Mises não era um anarquista. Ainda assim, Murray Rothbard e outros ainda argumentam que a lógica do trabalho de Mises leva o leitor a concluir que não há lugar legítimo para um governo coercitivo – o estado – em uma sociedade baseada na propriedade privada e na livre troca.

Similarmente, a lógica básica do trabalho de Jane Jacobs deve levar o leitor atento inexoravelmente a uma visão libertária das relações sociais humanas. Jane Jacobs nunca percebeu que o libertarianismo era exatamente o que ela era, embora relutante contra essa visão que parecia a ela um pouco sem coração. Ela foi, talvez, a maior forasteira libertária

Eugenismo: A Engenharia Social Final do Progressismo


(N. do T.: progressistas costumam seguir as tendências do momento em busca da construção forçada de uma sociedade melhor segundo seus ditames. No início do século XX, o meio para alcançar seu objetivo era o eugenismo, até os resultados surgirem e mostrarem quão horrendas eram essas idéias. O problema, no entanto, é que as mesmas políticas eugenistas de outrora continuam sendo apoiadas por muitos intelectuais progressistas, mas com intenções e propaganda diferentes. Esse fato levanta a dúvida: seriam os progressistas atuais apenas ignorantes econômicos com boas intenções gerando resultados desastrados, ou eles conhecem os resultados de suas propostas, como os progressistas da primeira geração, mas mudaram seus métodos de propaganda visando às conseqüências intrínsecas de suas medidas?)

Eugenismo: A Engenharia Social Final do Progressismo

Em 18 de Junho de 2013, por Art Carden e Steven Horwitz

De acordo com a história recebida da Era Progressista, um governo iluminado surgiria e regularia os mercados para os bens, o trabalho e o capital e desse modo protegeria as massas desafortunadas das vicissitudes do capitalismo laissez-faire. Os progressistas tinham completa fé que especialistas se levantariam acima dos interesses individuais e egoístas e implementariam planos magníficos para criar uma grande sociedade. As regulamentações estatais de salvaguarda do ambiente de trabalho, as restrições ao trabalho infantil e o salário mínimo restaurariam a dignidade e a segurança dos trabalhadores explorados e castigados. Leia mais deste post

O Imposto Único: implicações morais e econômicas


O Imposto Único: implicações morais e econômicas

Em 11 de Junho de 2013, por Murray Rothbard – originalmente publicado em Economic Controversies.

imposto únicoSetenta anos atrás, Henry George apresentou seu programa de imposto único, chamado Progress and Poverty, um dos maiores best-sellers em livros de economia de todos os tempos. De acordo com E.R Pease, historiador socialista e por muito tempo secretário da Sociedade Fabiana, esse volume “além de todo questionamento, teve maior influência para o revigoramento do socialismo naquele período na Inglaterra que qualquer outro livro”.

Muitos economistas atuais ignoram a questão da terra (ou recursos naturais, inclusive o espaço) e Henry George não foi diferente. A terra é tratada simplesmente como capital, sem nenhuma consideração especial ou problema. Adicionalmente, existe uma questão da terra e ignorar este fato não o torna irrelevante. Os Georgistas levantaram, e continuam levantando, questões que precisam ser respondidas. Um exame ponto a ponto da teoria do imposto único ainda está em aberto.

De acordo com a teoria do imposto único, os indivíduos possuem um direito natural sobre eles próprios e sobre a propriedade que criaram. Além disso, eles possuem o direito de serem donos de seu próprio capital e bens de consumo que produzem. A terra, entretanto, é uma questão difrente, dizem eles. A terra é um bem de Deus, e sendo um bem de Deus, ela não pode ser com justiça pertencente aos indivíduos; toda a terra pertence à sociedade como um todo.

Os crentes no imposto único não negam que a terra é aprimorada pelo homem: florestas são limpas, o solo é fertilizado ou pavimentado, casas e fábricas são construídas. Mas eles separam o valor econômico desses melhoramentos de seu básico, ou do “valor do espaço” da terra original. Aquela poderia continuar sendo propriedade privada, mas a terra seria da “sociedade” – isto é, do representante da sociedade, o governo. Ao contrário de nacionalizar o direito à terra, eles imporiam uma taxa de 100% sobre a renda anual da terra – o retorno anual do espaço – que significa exatamente a mesma coisa que nacionalizar a terra. Leia mais deste post

As Origens Urbanas da Liberdade


As Origens Urbanas da Liberdade

Em 14 de Maio de 2013, por Sandy Ikeda

Em “O Caminho da Servidão”, F. A. Hayek descreve que os governos e os intelectuais tragicamente abandonaram o caminho para a liberdade pela busca por utopias coletivistas no século XX. O caminho se esticava tão longe como a polis democrática da Grécia antiga, mas ela nem sempre era reta ou sem rupturas. Primeiro, a liberdade estava totalmente perdida, para ser redescoberta apenas séculos mais tarde.

A idéia de liberdade emergiu da luta entre as forças do coletivismo e do individualismo. Ela é a idéia de que cada um de nós possui uma esfera de direitos e autonomia na qual podemos estar livres de agressão. Na política, isso se manifesta na idéia de democracia liberal; na economia, com a competição de mercado; e numa esfera social ainda maior, com avanços científicos, expressão artística e tolerância religiosa.

Em sua concisa obra prima, Medieval Cities: Their Origins and the Revival of Trade, o historiador belga Henri Pirenne explica como, após a queda do império romano ocidental, a idéia de liberdade gradualmente reemergiu e como isso está diretamente ligado ao nascimento da cidade moderna. Leia mais deste post

Uma Cidade não é uma Árvore


N. do T.: O presente artigo é um clássico que merecia uma tradução mais completa para o português. O interessante deste texto de Cristopher Alexander é sua abordagem utilizando a matemática que se aproxima da conceituação de ordem espontânea de Hayek nas cidades que não sofrem de um planejamento centralizado.

Uma Cidade não é uma Árvore

Em 02 de Abril de 2013, por Christopher Alexander

 A árvore do meu título não é uma árvore com folhas verdes, é o nome de uma estrutura abstrata. Eu devo contrastá-la com uma outra, uma estrutura ainda mais abstrata chamada semilattice. De modo a relacionar essas estruturas abstratas à natureza da cidade, devo primeiramente fazer uma simples distinção.

 Cidades Naturais e Cidades Artificiais:

Quero chamar as cidades que surgiram mais ou menos espontaneamente durante vários anos de cidades naturais. E devo chamar as outras cidades, ou partes de cidades, que foram deliberadamente criadas por designers e planejadores de cidades artificiais. Siena, Liverpool, Kyoto, Manhattan são exemplos de cidades naturais. Levitown, Chandigarh, Brasília e as novas cidades britânicas são exemplos de cidades artificiais.

É cada vez mais reconhecido atualmente que existe algum ingrediente essencial faltando às cidades artificiais. Quando comparadas com as cidades antigas que receberam a pátina da vida, nossas tentativas modernas em criar artificialmente cidades são, pelo ponto de vista humanístico, totalmente sem sucesso.

Os próprios arquitetos admitem livremente que preferem morar em edifícios antigos a novos. O público em geral, não amante de arte, apesar de ser grato aos arquitetos pelo que fazem, considera o conjunto de cidades e edifícios modernos em todo lugar como inevitável, apesar das tristes parcelas de um fato maior que afirma que o mundo está indo pelo cano.

É muito fácil dizer que essas opiniões representam apenas o desejo que as pessoas têm de não se esquecerem do passado e de sua determinação em serem tradicionais. Por mim mesmo, eu confio nesse conservadorismo. As pessoas usualmente desejam se mudar com o tempo. Sua crescente relutância em aceitar a cidade moderna evidentemente expressa um sentimento de falta por algo real, algo que no momento escapa de nosso domínio.

A idéia de que podemos estar tornando o mundo um lugar povoado de pequenas caixas de vidro e de concreto também tem alarmado muitos arquitetos. Para combater o futuro “caixa de vidro”, muitos projetos e concepções têm sido levados adiante, todos com a esperança de recriar numa forma moderna as várias características da cidade natural que parece dar vida a ela. Porém, até o momento, esses projetos têm apenas refeito o antigo , eles não foram capazes de criar “o novo”.

Outrage (Ultraje), a campanha da Architectural Review contra o modo no qual novas construções e os postes de telégrafos estão estragando as cidades inglesas, baseou suas soluções, essencialmente, na idéia de que a seqüência espacial de edificações e de espaços abertos deve ser controlada se a escala tiver que ser preservada – uma idéia que vem do livro de Camilo Sitte sobre quadras e piazzas antigas. Leia mais deste post

O Fracasso da Primeira Conferência Internacional de Planejamento Urbano


O Fracasso da Primeira Conferência Internacional de Planejamento Urbano

 Em 26 de Março de 2013, por DavidNova York e a lama

Entre os dias 13 e 22 de junho de 2012 foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, popularmente chamada de Rio + 20, em referência à Eco92. Reunidos durante 10 dias, cientistas, ongs e políticos buscaram alcançar uma agenda comum de desenvolvimento entre as nações para os próximos anos visando a redução do impacto ambiental produzido pelo homem. O assunto foi explorado à exaustão e muito bem utilizado por políticos e cientistas para fortalecer a sua causa: a intervenção na sociedade com medidas (im)positivas contra os danos produzidos pelo homem no planeta.

A Rio + 20 chama a atenção pela semelhança de eventos recorrentes e demonstra a falta de originalidade com relação aos cenários apocalípticos que surgirão caso a sociedade não siga seus ditames. Esse planejamento econômico para um desenvolvimento sustentável, discutido na Conferência, é muito semelhante à história do planejamento urbano e de suas conferências. Por isso, vale a pena conhecer a história do primeiro evento que reuniu planejadores e sua preocupação ambiental com relação às cidades. Leia mais deste post

A Psicologia Evolutiva e o Viés Antimercado


A Psicologia Evolutiva e o Viés Antimercado

Em 05 de Março de 2013, por Toban Wiebe. Publicado originalmente no Mises Daily, 5/9/2010

 O analfabetismo econômico existe em todos os lugares, mas por que isso deveria ser algum problema? A ignorância é até mesmo mais perversa na microeletrônica e na programação de computadores e mesmo assim a tecnologia eletrônica é cada vez mais excepcional.

Em muitos campos de estudo, as pessoas deixam a ciência aos especialistas e confiam na correção de suas conclusões. Nem tanto para a economia: ao contrario de deixarem a matéria aos economistas, as pessoas mantêm fortes posições que são muitas vezes obviamente falsas. A ignorância econômica, por si mesma, não é um problema. Como Murray Rothbard coloca,

…não é crime algum ser ignorante em economia, que é, antes de tudo, uma disciplina especializada e algo que muitas pessoas consideram como sendo uma “ciência triste”. Contudo, é totalmente irresponsável dirigir uma opinião raivosa e aguda sobre questões econômicas enquanto estiver nesse estado de ignorância.

 Se as pessoas confiassem na economia como ciência, sua ignorância econômica seria menos maléfica que a ignorância que temos com respeito à maioria dos outros assuntos. Leia mais deste post

Uma Interpretação da Função Social da Propriedade pela Lógica da Ação Humana


Uma Interpretação da Função Social da Propriedade pela Lógica da Ação Humana

Em 26 de Fevereiro de 2013, por David

Definições e Conceitos

Princípios precisam ser entendidos para serem aplicados pela imparcial pena da lei. A interpretação é primordial para a garantia da justiça entre os indivíduos, para a garantia dos direitos e da responsabilização por eventuais violações a esses direitos. Contudo, a interpretação é subjetiva e ela pode ter sentidos diferentes para pessoas diferentes, ou para a mesma pessoa em tempos distintos. Devido a isso, a interpretação de princípios precisa passar pelo escrutínio analítico para a verificação de qualquer problema, pois um mesmo termo não pode ter sentidos contraditórios se almeja um resultado positivo; um deles deve estar errado e o outro deve ser o verdadeiro. O problema está em justamente descobrir qual das interpretações é a verdadeira.

A interpretação é subjetiva, mas ela deve ter sentido. Uma interpretação sem sentido é necessariamente falsa. Para fazer sentido, a interpretação não pode ser contraditória, ou seja, ela deve ser lógica. Dessa forma, a análise de quaisquer princípios deve ser realizada logicamente para que eles cumpram com os objetivos das leis que neles se embasam, além de não violem os próprios propósitos a que se destinam corrigir. No nosso caso analisado, o propósito de garantia da justiça, da imparcialidade e da igualdade de direitos.

Quando a interpretação é contraditória, ou houve erro ou existe nesse caso um interesse escuso por parte de quem interpreta. Só existem essas duas possibilidades. Nas palavras de um demagogo oportunista, a interpretação “errada” intencionalmente é direcionada para o seu próprio interesse oportunista. Já o bem intencionado, porém contraditório, não consegue entender o porquê de suas políticas estarem surtindo efeito oposto ao pretendido, freqüentemente piorando o próprio cenário que gostaria de corrigir via ação política. O que ambos fazem para explicar os problemas correlatos aos erros de aplicação dos princípios defendidos em suas ações, muitas vezes e infelizmente, é se esconder por trás das intenções que atribuem às suas políticas, nomeando-as vagamente de termos como: sociais, justas e coletivas. O método é freqüentemente o mesmo: atribuir a um termo uma conotação que evite oposição; ao dizer que uma política visa garantir a justiça social, quem for contra a política será taxado de contrário à justiça social. Esse método argumentativo é eficaz emocionalmente e evita o embate, mas não garante que a interpretação seja, por essa razão, verdadeira e que as ações tomadas alcancem os objetivos propostos.

É no sentido de contornar a subjetividade dos termos vagos utilizados que este artigo fará uma análise lógica do princípio da função social da propriedade. O objetivo é juntar esforços às pessoas realmente comprometidas com a verdade e com a justiça e buscar um entendimento lógico do princípio ao apresentar o que ele realmente é e o que ele necessariamente não pode ser. Conjuntamente, pretende-se objetivar alguns dos termos que acompanham o princípio para evitar qualquer problema de interpretação subjetiva. A lógica será a ferramenta para tirar as interpretações do campo puramente subjetivo e tornar os conceitos e princípios mais objetivos, facilmente entendidos por todos e válidos com justiça. Leia mais deste post

Arranha-céus e os Ciclos Econômicos


Arranha-céus e os Ciclos Econômicos

Em 05 de Fevereiro de 2013, por Mark Thornton. Originalmente publicado no Mises Daily, em 23/08/2008

Introdução

O índice de arranha-céus, criado pelo economista Andrew Laurence, mostra uma correlação entre a construção dos maiores edifícios mundiais e os ciclos econômicos. Isso é apenas coincidência ou talvez os arranha-céus realmente causam os ciclos econômicos? Uma fundamentação teórica do “efeito Cantillon” para o índice de arranha-céus é disposta aqui para mostrar como os componentes básicos da construção de arranha-céus, como a tecnologia, estão relacionados a conceitos chave de teoria econômica como a estrutura de produção. O que foi encontrado, teoricamente e empiricamente, sugere que a teoria da Escola Austríaca de Economia dos Ciclos Econômicos – TACE – tem muito a contribuir  para o nosso entendimento dos ciclos econômicos, particularmente os mais severos.

O arranha-céu, aquela celebração única do capitalismo secular e seus valores, nos desafia em todos os níveis. Ele oferece oportunidades únicas para análises profundas em termos muito amplos da arte, do humanismo e da história do século XX. Quando a crítica se torna cativa aos centros de poder, ou a teorias prevalecentes, ou a modismos, ou ela não é desejável e nem capaz de provar um processo e seus resultados, alguma coisa importante está errada com uma das forças de estabilização ou de balanceamento de uma sociedade madura. (Huxtable, 1992, p.120)

Na especulação superaquecida da década de 1920, assim que o preço da terra subiu, torres subiram junto e ainda mais altas. Ou seria a ordem: tão logo arranha-céus subiam alto, os preços da terra subiam? As variáveis que contribuem para os ciclos imobiliários eram ainda mais complexos que essa questão do ovo e da galinha. (Willis, 1995, p.88)

Leia mais deste post